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Foto do escritorRu Arriaza

O que a edição de vídeo me ensinou sobre justaposição no storytelling

Atualizado: 6 de out. de 2023

Zack Staenberg, vencedor do Oscar de 1999 de melhor edição por "Matrix" certa vez opinou que o que torna um filme, um filme, é a edição, e eu concordo com ele.

No início, os primeiros cinematógrafos filmavam o cotidiano como trens passando por estações, operários trabalhando em fábricas e o fluxo de avenidas movimentadas.

As ações eram filmadas até que se entediassem ou o rolo de filme acabasse. Existe um rumor de que Louis Lumière, um dos pais da sétima arte, supostamente disse que o cinema era uma invenção sem futuro.

Por que pagar para assistir algo que você pode ver de graça e ao vivo nas ruas? A arte invisível

Conforme as primeiras histórias foram chegando às telas, mais recursos foram necessários para atingir o coração das multidões e mantê-los interessados, em especial uma força discreta capaz de guiar o espectador, sem que este percebesse estar sendo conduzido ao longo da narrativa. O cinema elevou a contação de histórias a um novo patamar laçando escrita, atuação, imagem e eventualmente som e cores. A linha que tece tudo isso em obras imortalizadas é a edição, a arte invisível. O efeito Kuleshov

Conhecido como "efeito Kuleshov", é um experimento que demonstra a criação de emoções no espectador conforme a ordem das cenas numa sequência. A mesma cena de um homem sem expressões é intercalada em três situações diferentes que tenham sentido para o público, que preenche naturalmente as lacunas da história.


O homem vê a sopa, seu apetite é nítido;

O pai desolado encara o caixão de sua filha;

​O cavalheiro apaixonado olha sua amada com desejo.



Hoje conhecemos esse fenômeno como justaposição; o ato de criar contraste ou comparação entre duas, ou mais coisas. É um recurso usado por diversos artistas em variadas mídias ao longo de décadas.


As histórias que passei a contar após aprender isso

Fui produtor audiovisual durante anos em São Paulo, até a pandemia chegar. Eu estava com medo de infeccionar algum membro mais vulnerável da minha família; busquei formas de trabalhar sem sair de casa. Passei a estudar edição de vídeo e logo comecei a fazer freelas de edição e roteirização de videoclipes.





"[...] Hoje eu vou sair, vou encontrar a alegria e vou até o fim desse túnel profundo

Confiança vem como semente de fruta E eu acredito que as coisas mudam sempre Eu acredito que as coisas mudam sempre [...]" Pé na estrada - Nichollas Goulart




Nichollas Goulart é um artista independente, esse gif é de um videoclipe que fiz para ele da música Pé na estrada. A fugitiva entra no carro durante um dia cinzento com sua companheira de fuga; corta para uma estrada sem fim, onde só há o asfalto e horizonte, quase podemos sentir o vento soprando junto d'um céu azul e nuvens esculpidas; até acontecer um problema no deserto.


Peguei a cena da estrada num banco de imagens distinto. Eu precisava evocar emoção; um pouco de Thelma & Louise com Easy Rider. Mas não tinha nenhuma imagem dessa moça dirigindo, apenas essa manobra num posto de gasolina. A justaposição dá a entender que ela dirigiu milhares de quilômetros e chegou no terreno montanhoso ao centro da cena da estrada.


Em "Rio da Prata", outra música do Nichollas, também encontrei as imagens e desenhei uma história, montei e fiz o tratamento de cor para criar uma atmosfera. Usei imagens de um personagem zelador de cinema que se diverte durante seu expediente, e na sequência, coloquei uma cena como se fosse o filme de terror assistido pelo ator.





"[...] Rio da prata te orienta, seu eixo, qual o seu terminal? É da prata, o seu terminal é da prata

Eu quero mais sorte na vida, obliterar o medo dormindo, fantasiar a sorte nos dentes [...]" Rio da prata - Nichollas Goulart





Os vídeos do zelador e do ataque zumbi não tinham ligação alguma, e agora fazem parte da mesma história.


Ficamos limitados a usar banco de imagens, pois não havia orçamento para produzir material inédito. É um exercício de contar uma história da melhor forma que você pode, apenas com os recursos que tem para criar algo novo, talhando significados distintos.

Todas as cenas vieram de bancos de imagens cujos criadores (produtores independentes, benditos sejam vocês) permitem seu uso livre. Encontrar as imagens que melhor se encaixavam com as músicas era como estar rodeado de palheiros, eu enquanto buscava minhas agulhas.


Hoje eu já não estou mais no mercado audiovisual, mas aproveito tudo aquilo que aprendi como produtor, roteirista e editor de vídeo na hora de construir uma história que cative e envolva a audiência.

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